FRANKENSTEIN: DESCOBRINDO A OBRA

Por Thais Duarte.


Quem nunca ouviu falar do monstro de Frankenstein? A terrível criatura se tornou parte da cultura ocidental, penetrou nas artes, aparecendo no cinema, no teatro, na música e nos livros, seja como referência ou até mesmo como tema para novas obras. O fato é que esse ser conseguiu espaço tanto no mundo erudito, quanto na cultura pop, apesar disso muitos acabam não conhecendo a obra original em que aparece, de modo que até tomam o nome do criador, Frankenstein, como se fosse o nome da criatura, que, na verdade, não tem nome na obra.

Não tenho vergonha de admitir que já fui uma dessas pessoas. E mesmo depois que descobri meu erro, ainda permaneci por anos com uma ideia equivocada do que era a obra por apenas conhecê-la por fontes terceiras. Recentemente, modifiquei esse cenário e me dispus a ler o livro de Mary Shelley e me surpreendi. A verdade é que não sou uma grande fã do gênero terror, nem na sétima arte, nem na literatura, por isso ao decidir ler a obra, uma parte de mim, estava  “com o pé atrás”, entretanto, a história não era nada do que imaginava.

Para começar, o livro não causa, propriamente, o sentimento de medo, embora crie com êxito o suspense e o incômodo durante certas passagens. Ao mesmo tempo, o enredo nos faz, de certa forma, simpatizar com a criatura, que se torna o vilão e um dos protagonistas da história, pela qual nós nos vemos, se não torcendo, ao menos tendo certa compaixão. É impossível não desenvolver esse sentimento ao vê-lo experimentando a solidão, o frio, a fome e descobrindo o mundo por si só, tanto suas coisas boas, quanto as ruins.

O doutor Victor Frankenstein também é bem diferente do que eu imaginava. Trata-se de um homem que no início é apenas um cientista muito entusiasmado que se dedica completamente à ideia de criar a vida, mas que quando finalmente atinge seu objetivo, teme sua própria criação, e passa a maior parte da obra em negação inconsequente sobre o que realizou. Ele é o personagem humano pelo qual nós deveríamos torcer e, sim, ele tem carisma suficiente para isso, mas é difícil não questionar algumas de suas decisões e não ter um certo ressentimento por ele.

Acho que a grande genialidade da obra é essa: ao mesmo tempo que entendemos os dilemas da criatura e de seu criador, também questionamos suas ações, e nos pegamos pensando que se, ao menos, um dos dois tomasse diferentes decisões, talvez toda a história fosse diferente e muito sofrimento seria evitado. Além disso, o livro tem um teor filosófico: o arco que envolve uma família que vive no campo, formado por dois filhos e o pai cego nos faz refletir sobre a importância que damos à aparência, como julgamos antes de conhecer as pessoas e como nosso medo nos impede de tentar compreender o outro.

O desenrolar da história é lento em alguns pontos e pode cansar um pouco, mas nada que não se possa superar ao ler a obra com calma e com um pouco mais de tempo, ao menos é o que funciona para mim em obras mais densas e lentas, lê-las em porções menores ao longo de mais dias. Acredito que o esforço é recompensado por tudo o que essa leitura nos proporciona.

No fim, um livro que eu achava ser apenas um clássico do terror feito para nos assustar me fez refletir sobre várias questões interessantes e deixou, ao final, um sentimento de que vale a pena uma releitura para captar todas as suas nuances.

Fonte da imagem:  <https://pixabay.com/pt/illustrations/dia-das-bruxas-frankenstien-2853809/>

Equipe Jornal Nossa Voz

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A proposta do Projeto Jornal na Escola: Nossa Voz é valorizar a interação social e promover o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita de textos jornalísticos a partir do trabalho com alunos do CAp-UERJ.